Páginas

terça-feira, 5 de outubro de 2010

meu continho pra quebrar o gelo

Pelas costas

Trabalhou durante a toda vida. Logo que seu limite chegou, passou a esperar a morte, sentava ali, naquela cadeira. Não sabia porque, mas ali estava. Sentado na ponta da mesa de madeira, era de carvalho. Haviam mais sete lugares além do seu, todos vazios, porém cheios de lembrança, de tempos de outrora.
Logo a chuva iria cair nos campos lá de fora. Era domingo. Todos na missa, e ele ali. Esperando a morte com suas lembranças, estas passavam como um filme, longe e demorado, tendo como trilha sonora os pingos de chuva chocando-se no chão. Sorriu ele, sim a grama deste chão estava bem cortada.
Mantinha-se cortada pelo trabalho dos filhos,q eu agora cuidavam dele, ainda que não tivessem idade suficiente para serem considerados homens, como diz a lei, ou o que dizem que a lei fala, não sabia ao certo. Um tinha dezesseis, o outro quinze, mais outro tinha catorze e dois tinham treze. Ou teriam mais? Estaria confundindo realidade com lembrança? Não fazia mal. Pelo menos era a idade dos que ainda viviam.
Os dois meninos de treze não eram gêmeos, um era seu filho de nascença o outro por carência, era um sobrinho, órfão de pai e mãe. Era considerado filho, e ele se considerava filho, o respeito era mutuo.
Lembrou-se dos tempos em que o menino chegara ali com cinco anos de idade, tímido e com medo, vinha da cidade, uma grande mudança, porém necessária. Seus pais, mortos na frente dos seus olhos inocentes, vira coisa que nem gente grande suporta. , e seu irmão, se perdeu nas ilusões baratas.
O órfão tinha vindo no mesmo ano em que o filho mais velho, o que não fora citado a idade, tinha morrido. Morreu na igreja, morto por militares. O mataram dentro da casa de Deus.
Eis porque não estava na missa. Tinha desacreditado em Deus e na pátria. Estava perdido no silencio, nos pensamentos. Fingia-se consciente e sorria para os que passavam por ele, dando um bom comprimento.
Uma pontada na memória o fez lembrar-se da mulher, morta por um assassino. Os militares nada fizeram. O assassino era um deles! O país, a moral a religião o decepcionaram tanto. A lágrima descia pelo rosto e logo se encontrou com a mesa de carvalho.
A arma na mão, a vingança latejante sofrida no peito, o empurravam em um abismo de indecisões, estava desnorteado. Estava mudado. Por falar na tristeza de perder um filho, merecera, a sua mulher, aquela morte?
Tinha mudado sua rotina. Seus princípios, juntou seguidores daquela terra, iriam a cidade em busca de justiça, tinha planejado tudo, não sabia dizer adeus. Preocupava-se com uma única coisa.
Um menino dos seus, fascinado pelas armas, pela marcha dos soldados, tinha se levado pela beleza da disciplina dos militares. Acreditava no que diziam que a morte da mãe era necessária ao país, acreditava que a morte do irmão. Temia que teu filho o traísse, mas já esperava.
O som do feio de um carro, alguma voz de menino confirmando o local. Nenhuma voz melhor para traí-lo, do que uma voz amada. Vinha do lado de fora, atrás da porta da casa, que estava atrás de onde o homem estava sentado.
Bateram na porta, o choro aumentou, tinha perdido mais um filho, ou nunca ganho aquele? Mesmo sabendo que se respeitavam, mas o menino tinha traído toda sua confiança, poderia ter sido de outra forma.
Bateram na porta, logo um longo intervalo... até que arrebentaram a porta de uma vez, cliques de armas destravando. Armas apontadas para as costas de um homem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário