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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sujo Branco

Eu sou um escritor, não um dos melhores. Mas logo largarei esta merda de profissão. Tudo o que eu faço não passa de um triste vicio, o vicio do não branco. Assim não posso ver uma folha de papel em branco, intocada, pedindo para ser profanada. Não passo de uma traficante do meu vicio, claro que o vendo de uma forma mais trabalhada, mais comercial... O que é uma pena para meus leitores que perdem por não lerem o manuscrito, com a tinta e os borrões...
O branco suja! Então aqueles que saírem de branco, façam o favor de terem uma outra roupa em estoque em caso de acidentes com a primeira, a branca, a maldita roupa em branco, que se mancha tão facilmente. Ter outra roupa que disfarce o acidente, a mancha, a profana mancha no branco intocável, é socialmente e confortavelmente aceito pela sociedade.
Maldito sujo branco, branco sujo. Colocou-me neste casamento...
Meu vinho tinha manchado o branco da roupa dela. Ela era uma dessas pessoas sem roupas de outras cores em estoque. Dessa forma, ela teve que usar uma minha para fingir que nada tinha acontecido e permaneceu na festa e em minha vida. Casei-me com ela, junto ao branco do vestido: o caro vestido que ela alugou para a ocasião e que eu rasguei entregue ao meu triste vicio e a embriaguez de uísque caro, pago pelo pai da noiva... Vinho, nunca mais.
E o branco que tomou Brasília tentando limpá-la, acabou se manchando, se corrompendo, se encardindo com a terra vermelha desta podre cidade. Este mesmo sujo branco me tirou deste casamento, tornando a pele alva dela o alvo dos meus traços, tornando-a tão encardida de terra vermelha quanto os inúteis monumentos da capital. Assim não me falta tinta, pena dos leitores que perdem por não lerem o texto manuscrito, as letras, os traços, os borrões, de fato as expressões.

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